sábado, 17 de janeiro de 2015

A realidade que nos abraça

O ouvido colado ao travesseiro intensifica o barulho da chuva e do vento lá de fora. Escuto, ao mesmo tempo (iPhone aceso imerso no quarto escuro), a música da banda Ruído/mm: Penhascos, Desfiladeiros e Outros Sonhos de Fuga. Duas horas antes, o ruído dos foguetes da vizinhança acompanham as palmas do final da palestra de física quântica. Uma hora antes da palestra, o céu despenca em Curitiba em uma tempestade semelhante a esta que agora preenche meu silêncio de ruídos por milímetro cúbico. Quando a chuva diminui, meia hora antes da palestra, eu entro num táxi e vou até a Agência 433 na Nilo Peçanha. Chego lá sem me molhar e sem saber que irei embora líquida e tempestuosa feito o fim do dia. Imersa nas tempestades advindas da palestra, porém, não me representam os tons cinzentos. No banheiro, numa pausa entre meus pensamentos e as palavras ouvidas, a luz passa pelo prisma e decanta suas ondas em cores. A água escorre sobre as mãos -- me vejo: os olhos escorrem em mímese, incandescentes. A natureza em forma bruta escapa de todos os seus canais. Menstruo. Choro. Renasço. E a realidade, que sempre me pareceu estranha, me guia de volta ao meu lugar; desço as escadas até a cadeira e meu caderno de anotações apoiado na mesa. Partícula sobre partícula. Escrevo o que acabei de ouvir sem imaginar que meu ato naquele exato momento já estivesse reduzido à sua insignificância. Escrevo: "Os pensamentos e as palavras não transcrevem a realidade. A vida é tridimensional. É mágica." *

*Não é o fim. Este ensaio não tem fim.

Palestra de Física Quântica com Gabriel Guerrer /30 de setembro de 2014.

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