quarta-feira, 11 de maio de 2016

Alright

Eu detesto ressonância magnética. Também detesto dizer que detesto, mas nesse caso não tenho saída. Da primeira vez, deduzi em poucos segundos: é uma rave ruim. Pior: você precisa ouvir todo aquele barulho totalmente espasmódico sem se mover. De tempos em tempos a voz de uma mulher, sem rosto (porque não consegui imaginar), provavelmente de avental branco (foi o que deu pra deduzir), me pedia pra prender a respiração por 20 segundos (eu contei). Troço chato, mala, ruim, verdadeiro horror. Piora, imagino, pra quem tem os nervos à flor da pele, tipo eu :/ A sorte dos meus nervos é que não tomo contraste. Deve ter sido o livro de André Gorz pra Dorine que me deu esse medo. Sou leiga no assunto e, portanto, fiel ao meu medo. Não quero, acho estranho, pode me pedir de joelhos, eu não aceito. Agradeci a mim por ter dito não ao contraste. Busquei toda a concentração do mundo pra pensar em coisas que me transmitissem alguma paz interior... até que a minha memória musical me trouxe de bandeja a salvação. Numa dessas repetições tóin óin óin óin óin, ela encontrou num fichário antigo, registros da mesma repetição no início de uma música que eu ouvi em momentos alegres desta vida. Plim!: a música alegre passou a tocar na minha cabeça todo o tempo do exame, me permitindo ignorar com mais propriedade os outros ton ton ton, fa fa fa, tóins e óins deprimentes. Agradeço imensamente ao Supergrass por ter me acompanhado nesse exame. Por ter me feito resistir imóvel na máquina trazendo as danças pra dentro de mim, e permanecer ali, quase sorridente, repetindo "feel alright" pra mim mesma, a cada refrão, até o fim.