quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Eu quando amo, quero morar.

O teatro tem o cheiro de todo tipo de lembrança. Não tem cheiro melhor do que cheiro de teatro. Se eu pudesse, moraria em um. Dormiria e acordaria no palco todos os dias. Desceria as escadas até a plateia quando quisesse refletir ou imaginar. Colocaria flores nos camarins pela manhã, dançaria todas as tardes, leria poemas em voz alta todas as noites. Usaria cadeiras para decorar tudo. E escreveria sentada na coxia, como quem descobre a genialidade dos autores, as mudanças de ritmo, as deixas de entradas e saídas. Usaria roupas de outras épocas. Quando a intensidade da vida sufocasse, faria performances nua e aos prantos. Tomaria chá com bolachas à meia luz. Tomaria café no foyer vendo o movimento da cidade. Teria uma geladeirinha com espumantes para brindar as novas temporadas. Entre um feito e outro, me colocaria num foco de luz, para restaurar a autoestima. Deixaria meu telefone em modo avião. Amaria o silêncio das horas certas.

E a vida teria o brilho das noites de estreia, quando você me visitasse. E quisesse me conhecer tanto quanto eu a você. E porque não sei tocar piano, em todos os momentos mais lindos, você tocaria o piano do teatro com maestria, enquanto canto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário