quinta-feira, 31 de maio de 2018

O único lugar para estar



Fazendo esta foto, um garoto francês veio até mim pra dizer que me amava. Meu gesto de fazer brotar a Notre Dame das rosas que a primavera fez nascer diante dela era tocante segundo ele. Ele se desculpou pelo que disse mas quis explicar que expressar o amor era importante e que em algum lugar eu também o amava, se é que eu podia entendê-lo bem. Eu disse que entendia sim, sem me preocupar em entender bem do jeito que ele entendia. Na verdade, acredito mesmo que exista um lugar onde o amor não assusta, onde ele flui e é recíproco. De qualquer forma, concordamos e, por concordar, nos conectamos naquele instante. Eu pedi a ele uma informação que precisava pedir a alguém, informação que se fez presente como beleza em foto de primavera. Com aparência quase angelical, semblante leve, sempre, ele não demorou a sair dali, e se despediu sem nada querer levar ou deixar além do acaso. Viajando sozinha esses últimos dias, não me senti ameaçada por nenhuma presença, nenhuma aproximação veio pra subtrair, pelo contrário. Todos que se aproximaram trouxeram consigo espécies diferentes de integridade e de beleza e desvelaram uma certeza esquecida nas correrias do dia a dia, certeza de que todos estão no lugar exato para estar, que não é o certo ou o errado, é o único. Tenho uma amiga que diz que conhecemos anjos em viagens como esta, que aparecem para mostrar o caminho, trazem a pista que faltava. Surgem como a presença inesperada de certos ventos que levam o sufoco embora. O anjo que ela encontrou uma noite na Itália, uma espécie de guia ferroviário sexagenário, certamente é das maiores figuras míticas de que tive conhecimento. Ela vai me fazer acreditar que encontrei um anjo enquanto me dobrava para dar um recorte de primavera à minha mãe. Este é seu lugar preferido e, já que as rosas sempre nasceram abundantes na sua casa de infância, seu lugar preferido ganhou jeito de casa no enquadramento que, de passagem, consegui imaginar. Na distância de uma semana, deduzo que o melhor das viagens são as coisas que a gente nunca foi capaz de imaginar e que um dia superam as imaginadas, por, simplesmente, terem acontecido como aconteceram. Por terem sido necessárias ao momento, como peças de engrenagem, exatas em seu lugar exato, algumas vezes de formas estranhas e um pouco tortas, invertidas como peças chave. Impreteríveis por serem únicas.

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