tag:blogger.com,1999:blog-65567253700036914862024-03-12T23:33:48.257-03:00Ensaios de MesaQuando a atriz se encontra nas palavras. Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.comBlogger48125tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-10551560228595446892020-07-03T21:28:00.002-03:002020-07-03T21:33:37.491-03:00Ela se foi mas tá tudo bemComo quem vem do futuro e tem permissão pra estudar a tapeçaria de cenas do passado, ali me coloco. Acompanho o contorno de sua silhueta até ela desvanecer por completo na bruma própria dos portais. Me pergunto quantas passagens ela ainda encontra do outro lado, e.<br />
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De quantas travessias se faz um ser.Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-26321753255455444562019-04-26T18:03:00.001-03:002019-04-26T18:39:10.828-03:00Para Notre Dame com amorHoje é um dia especial. O primeiro do ano que uso uma calça jeans (quem me conheceu nos anos anteriores, sabe que calça e eu sempre fomos sinônimos), mas, ponto. Meu feminino floresceu às vésperas de 2019 desenterrando todos os vestidos e as saias do meu armário. Isso pra ilustrar que desde antes do ano começar, habito meus vestidos aplicando reiki e monitorando as roseirinhas que foram replantadas junto às roseiras antigas do jardim e não iam pra frente. Colocando as mãos sobre elas, me lembrava da primavera antecipada de 2018 — em especial das rosas abundantes que vi em frente à Notre Dame, dos botões do jardim dos fundos. Alguns meses se passaram nessa sobrevivência, recuperação e nutrição, até que hoje a primeira rosa “abril”, vermelha e rajada mais ou menos como intuí. Mais do que um dia especial, é um momento especial que vejo daqui, quase como se tivesse pedido por ele anteriormente. Quando me concentro nas rosas, um dos símbolos do coração/anahata que desabrocha, encontro a força de um feminino selvagem e divino que me inspira a seguir em frente. Nem sempre é fácil, ascender sobretudo. Enquanto os botões das novas rosas surgiam inspiradas no seu jardim de primavera, << la fleche >> queimou, partiu, ruiu, mostrou ao mundo algumas verdades. Fez lembrar de símbolos do feminino queimados nas sombras das tradições inquisidoras, instituições do patriarcado. Fez pensar no futuro, em Gaia que nos acolhe, nos nutre e permite a nossa existência narcísica não se sabe por quanto tempo. Neste momento especial o nodo norte em Câncer aponta ao feminino e é para ele que caminhamos coletivamente. Doa a quem doer, neste momento somos chamados à revolução pelo cuidado. Cuidar é dos verbos mais lindos e necessários, verbo vivido incansavelmente pelo feminino através dos séculos. Por isso mesmo lá do nodo sul em Capricórnio, vemos a autoridade dos nossos governantes e agregados que se debate para manter uma estrutura caquética à sombra de um masculino irascível e perverso. Aparte, não acredito no matriarcado porque olhando pra dentro aprendi que não existe separação, entendi que somos desde sempre as duas polaridades, que na união das duas e no acolhimento de suas sombras mora a cura que queremos ver no mundo. Acredito, from the bottom of my heart, na transmutação através do amor, na união das forças aliada ao amor incondicional. Acredito na troca e na cooperação e vejo surgir uma nova consciência que não é para alguns, que é para todos que tem um coração feito pra abrir, feito rosa, vermelha, branca, dourada, laranja, amarela e mesclada, de qualquer cor — as diferenças vão e devem sempre existir. Para todos que puderem aceitar sua vulnerabilidade intrínseca, que puderem acolher as duas polaridades e criar uma nova era onde ambas são uma mesma luz. Hoje as mulheres do ateliê se referiram a mim com a palavra exuberante, “estou feliz com as novas rosas”, eu disse. Ando vendo muitas borboletas ultimamente e me lembro daquele ditado sobre borboletas, que diz que o segredo é cuidar do jardim. Enfim. Essa calça jeans (acho que dá pra ver) eu tenho há dez anos e foi sem dúvida a calça que mais amei e usei na vida. Em breve, me despeço. Aos que acompanharam minha história até aqui, essa rosa que me faz feliz hoje não é minha, é da terra e é pro seu coração. Viva as mudas — mudar é bom! — e as primaveras que virão!<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ7G7id7Al-S7Y6NGIhztdKfKgsu-ZsWA8WN3Ma_bWBLH84atqIgkhrsErQzkflRIx7NVTmiYW-2zVCxNaa-lXCTpAiOx4h1UEr9VKSGetF1bfwyvqonqsB6GWGogZ70kk3vnvYNu0KDsG/s1600/BDC22C61-7871-4851-96C9-4796F2B2169D.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="512" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ7G7id7Al-S7Y6NGIhztdKfKgsu-ZsWA8WN3Ma_bWBLH84atqIgkhrsErQzkflRIx7NVTmiYW-2zVCxNaa-lXCTpAiOx4h1UEr9VKSGetF1bfwyvqonqsB6GWGogZ70kk3vnvYNu0KDsG/s320/BDC22C61-7871-4851-96C9-4796F2B2169D.JPG" width="255" /></a></div>
<br />Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-25521052429393170762018-08-13T18:53:00.001-03:002018-08-13T19:12:22.032-03:00Deixar o piano para subir a montanhaNa faculdade apresentei uma performance. Escolhi um banco de praça que ficava por perto. Eu chegava até ele com uma mala grande, antiga, um cabelo mal preso, meio solto meio embaraçado e um casaco de viajante de cor clara, séria. Por baixo talvez um vestido, talvez sem sapatos. Uma mulher antiga, uma presença contemporânea.<br />
<br />
Eu sentava no banco sem a mala, desconfortável. Trazia a mala para perto. Deitava em cima dela e do banco. A mala era mais dura do que o banco. Tentei posições diversas, as mais estranhas, para deitar com ela. A performance era uma prova da disciplina de dança, eu me formava atriz, eu pensava em Pina. Trazia o palco, o corpo, a vida, toda a minha expressão, as questões latentes ao meu desprendimento de atriz.<br />
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Quando demonstro não haver posição possível, que aquela mala não fazia mais sentido, quando finalmente me desprendo, percebo meu público de forma marcada. Muita gente me olha (que sensação essa), entre a entrada da faculdade e a cantina. Levanto e carrego a mala alguns passos adiante. Ali dentro, a atriz se sente constrangida com a sua proposta, mas é ela mesma quem se impulsiona porque sabe que depois do primeiro passo não há outra saída além dessa de seguir em frente.<br />
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Me dirijo com a minha mala incômoda mais alguns passos até meu público farto, percorrendo os olhos de todos. Abro as travas da mala para que escape dela o seu conteúdo. Calcinhas de garota, diversas. Contrastam com a sobriedade do resto. Ergo a mala, um pouco desajeitada, até mais ou menos a altura da cintura. Me aproximo ainda. Luto com o peso da mala com um braço e com o outro entrego uma a uma as calcinhas, as cores, os babados e as fitas que não fazem mais sentido. O público respira, curioso. Olhos nos olhos, um clima ritualístico.<br />
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Semi risos contrastam com a minha expressão limpa. O tremor interno dos ritos. A nudez da arte. A linha tênue que a gente atravessa e transforma tudo. De oculto a revelado. Intimidade distribuída. A inocência, uma bela lembrança. Aos poucos, eles entendem que me ajudam em minha passagem. Calcinhas entregues. A mala, em desuso, abandonada. Com o alívio de não carregar mais nada supérfluo, uma frase de Tadeusz Kantor escapa da minha garganta: “Não se entra impune para o teatro.”<br />
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Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-21908481510053499792018-07-27T14:58:00.001-03:002018-07-27T14:58:30.864-03:00DespertaNão sei quantos livros li em um dia, mais uma hora, metade de outro dia, que dia é hoje, o tempo corre. Abro-os, os leio até a metade, abro outro, outro e, assim mesmo, vou de um a outro, obstinada, ávida, morta de sede. Uma sede que veio agora, milenar, brotar das minhas entranhas como obra de um eclipse em lua de sangue. Volto a um livro e outro, não me contenho, tão, -- não sei bem a palavra -- desesperada, quanto os prisioneiros da caverna, libertos, depois da cegueira, obcecada, -- talvez isto -- em conhecer a verdade. A minha verdade, ao menos, aquela verdade que para acessar é preciso o outro, -- ou o mundo, -- que se identifica dentro dos livros, sem esforço, ainda que em momentos imprevisíveis. De tantos sobressaltos sou tomada e, de repente, num estalo, já que meus olhos se fixam num ponto sobre o meu toca discos, consigo parar depois de um parágrafo, com um nó na garganta. Bibi Ferreira fez este apontamento: são os artistas os melhores amigos da mulher, do homem. A eles recorremos sempre, em séries, em livros, em discos, inúmeras são as fontes, quando precisamos de algo que nos transporte. Escolho um disco de Chopin, o responsável em grande parte pelos meus encontros com o meu centro nas lições de ballet, sempre, carinhosamente, a liberar dos meus olhos o orvalho que na terra fez nascer Psiquê. Conforme gira o disco, emerge meu ser na digestão de palavras tão vastas, palavras geradoras de novos mundos, nascidos, agora também, da sorte dentro de mim. Sou fértil. A lâmpada da consciência causa certo transtorno, ainda que ninguém se veja sozinho ao deixar para trás o simulacro a que, certa vez acreditamos, deveria ser o mundo. Não é simples, nada está terminado, a realidade tem muitas camadas. Camadas a serem abandonadas. Uma de cada vez. Aqui vejo se dissolver mais uma. Um pouco mais perto da fonte, uma ilusão a menos. Persona, tela em chamas. Ainda que a cada um exista um tempo particular, que cada um respire por si, cada um em sua própria trilha e, ainda que a libertação cause dor ou medo, descubro, não tão tarde, como nas minhas primeiras experiências de ter um centro, que a todos os males do caminho a liberdade compensa. Da luz do conhecimento não há retorno, com os escombros das torres destruídas, soam as mais belas músicas. A beleza vem com certa ruptura, como o olhar desconcertante da maturidade.<br />
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A consciência chega até mim vestida de mulher. Sou eu mesma, em tamanho e brilho originais. Brilho abrasador. Sol de outro sistema, que decidi chamar de meu. Cada um pode dar início a uma nova era, num big bang cardíaco advindo da própria consciência que é também toda a consciência, porque ela pode estar aqui, mas não se encontra apenas aqui. Ela é tudo o que aqui há. É o que conheço, é todo o resto. E não é de agora. É de antes. É de sempre.<br />
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Da paisagem dourada enlevada por sua presença, a consciência me olha. Olho para ela e entendo que sou uma parte exilada dela mesma, que precisou se afastar para poder aprender a dizer por si própria, ver a si própria com distanciamento. Quando por instantes me perco no sono instantâneo dos pensamentos, ela me desperta como quem joga um pássaro para cima para testar a natureza de suas asas crescidas, dizendo: Voa!<br />
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Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-33709182918499556332018-07-07T12:17:00.000-03:002018-07-07T12:55:15.166-03:00Para iniciadosQuartas de final com a Bélgica. Depois do almoço tive a intuição de que o Brasil perderia o jogo. Intuição forte, eu sabia. Avisei a minha família pra eles não se empolgarem muito com o jogo já que o Brasil perderia. A gente sempre sofre do alto das expectativas. Sabedoria, me disse um amigo mago de Florença, é não criá-las nunca. Pois, como estava combinado, fui pra casa de uma amiga, e foi lindo porque ela mora meio no meio do mato e as duas muito divinamente nos aproveitamos do paraíso e não vimos nada do jogo. Em vez disso, tomamos café sentadas nas cadeirinhas da sua filha e mergulhamos em questões ocultas, nossas e da existência em um todo. Do jardim imenso ganhei frutinhas cítricas. Aprendi tanta coisa com ela, aprendemos juntas. Porque não vimos o jogo não interiorizamos qualquer derrota. Viraram números numa nota da internet que ela leu por curiosidade. Dois mais um. A luz acabou entre um diálogo e outro, e foi quando outra amiga chegou pra transformar a casa escura. Com a luz de volta, vimos uma aranha marrom que antes estava quieta na parede, ensaiar uma pequena volta no chão. Tomamos café novamente, agora as três, na mesma mesinha <3<br />
Voltando à aranha, quem mora em Curitiba sabe o que essa aranha representa e quem me conhece sabe que eu não suporto aranha. Cheguei perto dela, pra fazer um teste de coragem. De fato, muitas coisas que me assustavam antes, não me assustam agora. Pior, estou transformando as assombrações em minhas amigas. Quem sabe eu possa escrever: melhor, estou transformando as assombrações em minhas amigas. Melhor. Afinal é mesmo o medo que faz a gente ter coragem. E afinal é a gente mesmo que escolhe se quer tornar piores ou melhores as experiências.<br />
Agora voltando à cozinha, me perdoem a tontura do vai e vem, mas bem, na cozinha eu encontrei uma pérola no chão, num dos cantos entre a pia e o balcão, enquanto ouvíamos histórias umas das outras, histórias meio pérolas. E ali entre um riso e outro eu me pego feliz.<br />
Olhando pro meu dia já com creme no rosto eu penso que preciso sempre acreditar na minha intuição como hoje e acreditar sempre na abundância da vida, porque não importa a densidade do momento ou a tristeza da maioria, a gente sempre pode espremer o prazer que há nos sucos de fruta da vida pra beber em companhia. E pode escolher transformar monstros em aranhas, a gente pode escolher não entrar nos canais que fabricam disputas e derrotas. Em vez disso pode se provar uma fruta cítrica nova no jardim (onde se entende a abundância), tomar duas vezes café com mulheres grandes numa mesa pequena, dar a elas uma pérola esquecida por uma criança, receber delas o que não seria possível encontrar sozinha. É possível se colocar na frequência da beleza, do amor, da felicidade entre um riso e outro, da cura plena, das vitórias luminosas.<br />
Não gosto dos que se autointitulam, desconfio dos que se gabam a importância de serem bruxos, afinal quem é sabe o preço que há em ser e não precisa se gabar. Mas já que sou bruxa faz muito tempo e já que estou madura, me gabo um pouquinho (e que os bruxos e as bruxas oportunistas não saibam). Quem quiser saber como termina a Copa, me pergunta.Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-81920097432444242492018-06-19T16:02:00.001-03:002018-06-19T16:02:26.937-03:00Vou embora daquiAprendi a calcular a roda da <div>
Fortuna<div>
Entendi porque o GPS do meu </div>
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Destino</div>
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Está sempre recalculando a rota.</div>
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Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-2938564216949169712018-06-08T16:40:00.002-03:002018-06-08T16:40:44.672-03:00meditaçãopra não quebrar um momento de silêncio, anotei:<br />
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ser pequeno é poder ser grande. estar vazio é poder ser completo. ter sentimentos latentes é poder ser tudo. o que passou e o que vai vir existem agora, neste momento. a tua percepção de mundo engrandece o universo. assim entendo o infinito.Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-78556508610004092052018-05-31T13:02:00.003-03:002018-06-03T20:44:24.082-03:00O único lugar para estar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivQUHfi5e3fd4PlzoYiL0SCAsywyAAla7iB7wHyoAMKI6vAaSgIhpPy99f5DcBZM55YxPrI4jT7wzSujCZFBuhhontZD44kAX9UlEeG1xgijbsayOyzSyBiFb-adG5yUpswzN2_pzJX7Mj/s1600/24097c94-9618-41fe-8a2a-be3e9f96e9ea.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="768" data-original-width="1024" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivQUHfi5e3fd4PlzoYiL0SCAsywyAAla7iB7wHyoAMKI6vAaSgIhpPy99f5DcBZM55YxPrI4jT7wzSujCZFBuhhontZD44kAX9UlEeG1xgijbsayOyzSyBiFb-adG5yUpswzN2_pzJX7Mj/s320/24097c94-9618-41fe-8a2a-be3e9f96e9ea.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Fazendo esta foto, um garoto francês veio até mim pra dizer que me amava. Meu gesto de fazer brotar a Notre Dame das rosas que a primavera fez nascer diante dela era tocante segundo ele. Ele se desculpou pelo que disse mas quis explicar que expressar o amor era importante e que em algum lugar eu também o amava, se é que eu podia entendê-lo bem. Eu disse que entendia sim, sem me preocupar em entender bem do jeito que ele entendia. Na verdade, acredito mesmo que exista um lugar onde o amor não assusta, onde ele flui e é recíproco. De qualquer forma, concordamos e, por concordar, nos conectamos naquele instante. Eu pedi a ele uma informação que precisava pedir a alguém, informação que se fez presente como beleza em foto de primavera. Com aparência quase angelical, semblante leve, sempre, ele não demorou a sair dali, e se despediu sem nada querer levar ou deixar além do acaso. Viajando sozinha esses últimos dias, não me senti ameaçada por nenhuma presença, nenhuma aproximação veio pra subtrair, pelo contrário. Todos que se aproximaram trouxeram consigo espécies diferentes de integridade e de beleza e desvelaram uma certeza esquecida nas correrias do dia a dia, certeza de que todos estão no lugar exato para estar, que não é o certo ou o errado, é o único. Tenho uma amiga que diz que conhecemos anjos em viagens como esta, que aparecem para mostrar o caminho, trazem a pista que faltava. Surgem como a presença inesperada de certos ventos que levam o sufoco embora. O anjo que ela encontrou uma noite na Itália, uma espécie de guia ferroviário sexagenário, certamente é das maiores figuras míticas de que tive conhecimento. Ela vai me fazer acreditar que encontrei um anjo enquanto me dobrava para dar um recorte de primavera à minha mãe. Este é seu lugar preferido e, já que as rosas sempre nasceram abundantes na sua casa de infância, seu lugar preferido ganhou jeito de casa no enquadramento que, de passagem, consegui imaginar. Na distância de uma semana, deduzo que o melhor das viagens são as coisas que a gente nunca foi capaz de imaginar e que um dia superam as imaginadas, por, simplesmente, terem acontecido como aconteceram. Por terem sido necessárias ao momento, como peças de engrenagem, exatas em seu lugar exato, algumas vezes de formas estranhas e um pouco tortas, invertidas como peças chave. Impreteríveis por serem únicas.Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-87336057396139145482018-05-28T11:31:00.002-03:002018-05-28T11:31:13.387-03:00Estado de EmergênciaHematomas, as bandeiras dos vasos sanguíneos. Os sapatos não me servem, nem adianta tentar. As bolhas nos meus pés decretaram nova greve. Não parto mais a lugar nenhum. Tempo de paralisações. Um estouro débil, vertendo para fora do corpo, lentamente, a energia de ação. Os curativos são do tamanho de uma mão, como são do tamanho de cada coração, os punhos fechados das reivindicações. Os desejos estagnados bloqueiam no corpo os canais de emanação.<br />
Na eminência de uma grande estiagem, o coração se aperta em seu lugar. Atinge o sistema nervoso com espasmos que emitem luzes, como sirenes. Seus sinalizadores buscam atingir o céu do meu ser. Tempestades internas, alerta vermelho. O delírio do exílio, o mal estar da inércia, a febre do aprisionamento, impedem meu sono, agitam a mente. Espécies de estrelas cadentes, feito pássaros em bando, riscam palavras em neon dentro dela. Haverá combustível para a arte, haverá combustível para a criação. Haverá combustível para seguir em frente porque sempre haverá combustível ao amor.<br />
<br />
Nas estradas e bifurcações das vias que me levam em sua direção há uma poeira dourada que se une feito imã formando setas. Juntas elas desenham no chão.<br />
VAICarolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-34411762356147628782018-03-06T21:38:00.000-03:002018-05-28T11:35:16.583-03:00fill in the blankstô p&b. a blusinha laranja manchou. o sapato vermelho permanece guardado desde a última estreia. o blush não pega nas maçãs do rosto, voa como o pó que é. o colarzinho de missangas ficou preso na maçaneta da porta da casa antiga. batom vermelho só nas fotos do último carnaval. meu jeans preferido rasgou. lembro de uma calça como a minha desenhada no meu livro de inglês com legenda: torn. btw - escrevo ao lado - não são só as roupas. meus cabelos escuros mostram o rastro da primeira neve que vi cair em Berlim. faço rabiscos com minha caneta nanquim e formo letras finas nas folhas brancas. os espelhos da casa espiam na penumbra minhas camisolinhas claras enquanto elas desfilam (à la Vuitton), da cama branca aos sofás brancos, de nuit blanche em nuit blanche. as músicas islandesas que ouço, vibram nas paredes da casa e se misturam com as paisagens invernais. eu quase sou capaz de ver uma aurora boreal. mas não é sempre, não tem hora marcada. de olhos abertos no escuro, eu me vejo. nas alvoradas, durmo. tomo café sem leite. o resto do tempo tomo água transparente.<br />
<br />
(Escrito no dia 6 de março de 2013.)Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-68503422818774666582018-02-26T13:49:00.000-03:002018-02-26T13:49:52.468-03:00meu poema é pra você.em uma<br />
xícara de café<br />
faço correr a última gota;<br />
viro a xícara<br />
em minha direção<br />
como se quisesse beber.<br />
<br />
durante o movimento<br />
vejo um buda<br />
que se transforma<br />
em uma mulher<br />
meio princesa<br />
meio antiga;<br />
uma mulher<br />
de vestido dourado.<br />
<br />
pense na forma<br />
de um buda<br />
e me diga se<br />
a gota de café<br />
não fez um<br />
passeio completo<br />
<br />
eu digo;<br />
<br />
algumas coisas<br />
na vida<br />
a gente descobre<br />
não por um triz<br />
nem por um fio<br />
mas;<br />
por uma última gota.<br />
<br />
todas as imagens do mundo<br />
foram criadas<br />
e-s-p-e-c-i-a-l-m-e-n-t-e<br />
para quem as viu;<br />
<br />
você me vê?Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-16422532574911047172018-02-21T17:51:00.001-03:002018-02-21T17:51:57.348-03:00Da cor do marFez seis anos, no Carnaval, que a luz da vida apagou dentro dela. Muitas vezes esta luz apaga antes do blackout que prenuncia o fim. Algumas vezes parece que não acende mais, mas a chave vira e a peça continua. Algumas vezes olhamos na direção daquilo que nos tira o brilho e, por hábito, não acreditamos que seja possível transformar o que não foi bom, o que não deu certo.<br />
<br />
Algumas vezes sentimos o peso daquilo que não deu certo antes de nós. Algumas vezes, o coração sozinho, não dá conta de combater a morte que levamos, por descuido, para dentro. Algumas vezes não entendemos o suficiente de eletricidade e, no escuro, por orgulho ou pela falta, deixamos de pedir ajuda. E, complexas, esquecemos de olhar a parte esquecida que precisa de atenção.<br />
<br />
Outras vezes, mais adiante, a gente passa a querer olhar para o brilho das coisas que ficaram esquecidas. E lembrar das coisas boas, das coisas que têm a cor do mar do Nordeste, das coisas que deram certo. Intuir que, das escolhas da vida, a principal, é escolher viver, viver bem, virar a chave da tristeza, ser feliz e iluminar. E intuir que dentro da escolha iluminada está o pacto de manter aberto o coração magoado, deixar sempre o peito aberto para dar espaço ao amor e à cura que dele irrompe.<br />
<br />
Depois a gente passa a ter vontade de, no meio do dia, no meio da noite, deixar a luz da consciência acesa para ver com os olhos bem atentos, a poeira dos objetos de cena, toda a quantidade de cenários esquecidos, de peças nunca mais encenadas. Ver os objetos em desuso que mantivemos guardados para ter controle sobre algo. A gente passa a ter coragem de permitir que tudo seja levado pelo mar, de aceitar o vazio da limpeza, de descobrir a possibilidade infinita de recomeçar, descobrir que ela vem de dentro, porque já entendemos que quando nada mais resta, restamos nós mesmas.<br />
<br />
Nesses dias de luzes bem acesas, encontrei seus olhos cor de mar num porta-retrato. Quando a distração ao redor terminou, parei para olhar com mais cuidado e profundeza em direção ao brilho. Vi raios de sol incidirem sobre o mar, me despi com a naturalidade praiana que ela emanou em vida e me pus a pensar sobre o que é natural. É natural que a gente se inspire por afinidade ou por apego em algumas daquelas que estiveram aqui antes. É natural a gente querer desistir. É natural que não seja óbvio ou fácil. É natural a gente se largar ou mesmo se perder. Está além do natural transcender.<br />
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Quem olha para o mar vez ou outra pode se lembrar de que viver não é preciso e navegar sim. Navegar é preciso! Oscilo entre o porta-retrato e o mar que me deu a coragem de olhar para coisas tão grandes e profundas, de olhar novamente para minha tia e agradecer o caminho percorrido por ela. E, através dela, vislumbrar o caminho de todas as outras que se sentiram sufocadas como nós. Quero ir além do natural, digo a mim mesma. Rezo para todas elas.<br />
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E mergulho por cenários carregados pelo mar muitos anos antes, objetos que me levam a entender as dificuldades destas mulheres, e me levam a querer pisar o território desconhecido da maioria delas, estrelas do mar desta constelação ancestral. Ao território não explorado da auto-estima, da valorização, da confiança plena, da auto-realização, ao território não explorado da felicidade, eu me dirijo. Todos os caminhos trilhados por elas me dão força, retiram das minhas profundezas as minhas capacidades perdidas, abandonadas, trancafiadas, esquecidas.<br />
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Sou Vênus, nascida da espuma, rompendo a concha. Recupero o fôlego depois do mergulho e piso com delicadeza o novo solo. Vejo que comigo estão todas elas, desnudas e libertas, do outro lado da gruta, da caverna, da ponte, da janela, do castelo, do rio, do monte. O lado da felicidade.<br />
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Quando uma se ilumina, iluminam-se todas elas.Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-52148507168077239392018-01-29T21:08:00.000-02:002018-01-29T23:18:53.493-02:00Asas do Desejo*<br />
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Os sentimentos e os conceitos das palavras, precisam ter certa itinerância. Nada pode ser muito fixo, nem os sentimentos podem ser imutáveis. O conceito de casa, por exemplo, tem lona de circo. Depende do lugar e independe do lugar. Para amar um lugar mais que outro é preciso ter ido a um e ter ido a outro. Para amar todos os lugares é preciso ter conhecido o bastante. O amor é um sentimento itinerante por princípio. Não está apenas dentro dos corpos itinerantes, mas em todos os lugares. Ele entra se deixamos aberta, no nosso conceito de casa, a lona de circo. Colore tudo por dentro, acende as luzes do picadeiro, faz rir e dá medo. Para amar é preciso ter sido criança, ter usado fantasia ou ter algo de lúdico dentro. Para sorrir e ter medo é preciso ter coragem de colocar a vida ao vento, a casa em movimento, como o corpo que se move carregando o coração lá, aqui dentro. O medo também é itinerante, como os leões dos circos, como os signos e como as constelações. Quem é que vai dizer que o sol não está se movendo com todas as outras estrelas para um lugar diferente de tudo o que conhecemos? Eu acredito que tudo no mundo pode ser um outro universo. Acredito que tudo pode ser um grande circo com atrações e números, cartolas e coelhos, cartas na manga e que nada disto está acabado, como os palhaços nunca estão acabados e os bailarinos nunca estão satisfeitos. Eu acredito que nossas almas, como o amor, são itinerantes por princípio e conhecem e amam lugares longínquos e estranhos, muito mais longínquos e estranhos do que um dia imaginou um astronauta, um artista, mágico ou alquimista. Eu acredito que minha alma possa amar um lugar totalmente desconhecido, se puder adentrar as lonas abertas dessa outra realidade impensada, como são os planetas onde nossas naves não estiveram. Assim como amei vários lugares distintos, as cidades e os países que adentrei até hoje, as lonas de circo das casas que, como ao amor, me receberam. Cada lugar fora de mim desperta um lugar dentro de mim. Assim eu descubro que sou tudo e que sou grande. Graças ao inacabado, os conceitos das palavras se ampliam. Graças ao movimento, o coração bate e os sentimentos podem ser gigantes ou infinitos. Somos por princípio seres itinerantes. Criamos tecnologias e engrenagens para mudar de endereço, para abrir as lonas de circo das casas, para que o amor, com riso e medo, revele o quanto estamos inacabados e o quanto somos grandes ou estranhos e podemos ser longínquos.<br />
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*Guardo dentro de mim a criança que viu as piruetas dos trapezistas com os olhos semi abertos. Sonho que sou livre, que me balanço num trapézio com asas de anjo como no filme do Win Wenders. Choro quando tenho vontade, amo muito e tenho pouco medo. Sonho que o mundo é um circo à caminho de um novo universo para armar a sua lona e iluminar com novos astros o seu picadeiro. E porque sempre tive sonhos, agora escrevo.<br />
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Começa assim meu pensamento:Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-41129261521257156822017-12-28T22:12:00.001-02:002017-12-28T22:13:59.831-02:00NavegarAzul, azul. Barquinho pra bem longe, lugar nenhum. Aqui se faz nuvem de escalar -- ao azul! Navegar não é preciso. Estica o braço e finda as férias no exílio. A cidade natal faz as vezes de madrasta, porém. Tem sempre a garrafa azul do refrigerante de gengibre na mesa. A minha dose é o copinho de nutella. Aquela gota que falta (vírgula) transbordo.<br />
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(Escrito em 17 de dezembro de 2013.)Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-21933381915372943562017-11-28T14:17:00.002-02:002017-11-28T15:26:34.683-02:00Sempre em frenteConfúcio, amor:<br />
Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo; quando vires um homem mal, examina-te a ti mesmo.<br />
(Também troco homem por mulher na mesma frase pra ver como fica.)<br />
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Eu sempre penso: todos os males do mundo nos habitam. Para olhar no espelho é preciso coragem. Não adianta apontar o dedo para os outros, as outras. Encarar a pior parte de nós e transformar o pior em melhor através do amor (assim como uma mãe aceita ou educa um filho) é o que faz mudar o mundo. A revolução pelo amor e não pela revolução.<br />
Para entender a transformação é preciso reconhecer o feminino em seu arquétipo de mãe. Aquela que cuida, que ama filhos diferentes, que é capaz de criar e educar com o mesmo amor outros filhos que não os seus. Cada um de nós precisa se pegar no colo. Somos as duas partes, dentro de nós mora uma criança abandonada e uma grande mãe.<br />
Se um dia alguém te disser que a revolução é feminina, acredite. Não implica em isolar os homens, o feminino está nos homens, nas mulheres, está em todos os que nascem. A revolução mora nos filhos e nas filhas de todas as mães. A revolução é a grande mãe que nos ama e nos habita.<br />
A humanidade está aos berros, feito criança faminta, porque ainda não incorporou o amor incondicional por sua própria essência. Não se deixou ninar pela mãe que cada um passa a ser para si próprio depois de todos os ritos de amadurecimento.<br />
Precisamos de ritos, crianças, precisamos de amor, amores, -- tudo a seu tempo -- precisamos crescer, precisamos ser grandes.<br />
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Vamos, enfrente.Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-58980762794920813402017-11-14T11:18:00.002-02:002017-11-14T11:18:18.769-02:00AgraciadaVivendo a vida da personagem, deixei a minha vida suspensa em muitos momentos. De outro lado, a vida da personagem me permitiu acesso a memórias e estados latentes que me enriqueceram, me encheram de vida e me conectaram mais fortemente ao solo do corpo, do presente, do aqui e agora. Parece que tudo o que vivi antes, todas as minhas experiências anteriores, fizeram sentido no momento presente. Na cena da foto, a câmera se movimentava e minha única ação era olhar pela janela. Enquanto estávamos ali, concentrados, em ação, uma garça, atravessando o escuro da noite, cruzou o meu olhar para a cidade. Lembrei que este passou a ser um símbolo de sorte pra mim depois de um dia das bruxas que passei na floricultura de uma amiga especial, que faz tempo não encontro. Naquele dia, tive um choque de beleza e graça vendo uma garça bem branca cruzar um céu muito cinza. Era como se eu estivesse no lugar onde tinha de estar e sutilmente conectada a tudo, para olhar para o céu naquele momento tão exato. Nesta imersão generosa, de doar vida para a personagem, a vida passou a me devolver símbolos antigos, roubados, extraviados, esquecidos. E de olhar para tudo, hoje, eu entendo que sempre escolhi dar de mim o melhor e, por isso, recebo o melhor da vida neste momento e, por isso, se vislumbro o futuro, sei que é o melhor que está por vir.<br />
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Esta cidade pra onde olhava a personagem com lágrimas nos olhos, ficou maior dentro de mim.<br />
Te agradeço, Curitiba.<br />
Te agradeço, Andressa.<br />
Agradeço a todos os envolvidos nesta grande aventura e nas aventuras passadas, que me permitiram esta. Terminadas as filmagens acordei sentindo um amor imenso por tudo, por todos, e entendi que o que me acontecia é que me sentia realizada.<br />
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Depois daquele momento estou vendo garças atravessando o céu quase todos os dias.<br />
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<br />Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-32047315006022409412017-10-27T12:41:00.002-02:002017-10-27T12:43:24.160-02:00Coragem!Assisti esta semana um filme do Murilo Salles na Mostra de Cinema de São Paulo. Apresentando seu filme (O Fim e os Meios), Murilo se referiu à corrupção não como algo de alguns eleitos. "A corrupção está entre nós". Murilo foi aplaudido, compartilhamos da sua ideia.<br />
Eu acredito que as melhores atitudes não são as bélicas, não acontecem quando nos deixamos dominar por emoções fortes, ideias absolutas. Eu acredito na ponderação quando vamos nos referir ao outro, ou a algo que não conhecemos por completo. É sempre difícil chegar até a verdade. Por isso, acho mais saudável o caminho do meio. Acredito que melhor do que apontar o dedo para "os corruptos" é se reconhecer como parte de um mundo onde a corrupção atua. E analisar suas ações, diariamente.<br />
Faz tempo, observo as opiniões de timeline, e chego à conclusão de que o que falta de maneira geral é AMOR. A paz mundial começa dentro de casa e o cuidado com o planeta começa no jardim. E eu tô contigo, não é fácil. Mas se existimos é porque não faltou coragem. Então, dá a mão aqui.<br />
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(Escrito em 27 de outubro de 2014. Faz três anos mas ainda dá tempo.)Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-8615736523875552242017-10-25T18:47:00.000-02:002017-10-25T18:47:17.866-02:00Eu quando amo, quero morar.O teatro tem o cheiro de todo tipo de lembrança. Não tem cheiro melhor do que cheiro de teatro. Se eu pudesse, moraria em um. Dormiria e acordaria no palco todos os dias. Desceria as escadas até a plateia quando quisesse refletir ou imaginar. Colocaria flores nos camarins pela manhã, dançaria todas as tardes, leria poemas em voz alta todas as noites. Usaria cadeiras para decorar tudo. E escreveria sentada na coxia, como quem descobre a genialidade dos autores, as mudanças de ritmo, as deixas de entradas e saídas. Usaria roupas de outras épocas. Quando a intensidade da vida sufocasse, faria performances nua e aos prantos. Tomaria chá com bolachas à meia luz. Tomaria café no foyer vendo o movimento da cidade. Teria uma geladeirinha com espumantes para brindar as novas temporadas. Entre um feito e outro, me colocaria num foco de luz, para restaurar a autoestima. Deixaria meu telefone em modo avião. Amaria o silêncio das horas certas.<br />
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E a vida teria o brilho das noites de estreia, quando você me visitasse. E quisesse me conhecer tanto quanto eu a você. E porque não sei tocar piano, em todos os momentos mais lindos, você tocaria o piano do teatro com maestria, enquanto canto.Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-74097816584980458612017-09-05T11:57:00.001-03:002017-09-05T12:02:44.988-03:00Páginas do diário da atriz - noveNum ritual depois de um dia cheio de trabalho, passo óleo Johnson's no esterno, massageando a timo sobre a pele. Devolvendo o brilho ao lugar do brilho da atriz sobre o palco. Como pretexto, retiro da pele os riscos da cola que fizeram durante o dia as tiras de micropore. Acho bonito levar ao coração um cheirinho de infância, um sentido de pureza, já que ele me ajuda a viver certo a vida da personagem. E escuta a minha voz antes que ela parta a caminho do microfone de lapela colado ali ao lado. A marca da cola que fica no centro do peito conforme o número de cenas que filmo, é um lembrete. Ao final de um dia de cenas inúmeras, únicas e inéditas, é bom agradecer ao coração e à timo pelo ritmo, pela verdade, pelo calor, pela transparência, pela imunidade, pela alegria, pela alma.<br />
Aqui me lembro que minha mãe sempre reavivou minha memória a respeito do ritual de vitalidade de sua professora de yoga, Teodolinda, que, batendo no esterno com a mão em movimento horário, como se a mão fosse um martelinho, repetia: "Todos os dias, sob todos os aspectos, estou cada vez melhor. Todos os dias, sob todos os aspectos, estou cada vez melhor. Todos os dias, sob todos os aspectos estou cada vez melhor. Melhor, melhor e melhor. Melhor, melhor e me-lhor!"<br />
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<i>"Tous les jours à tous points de vue je vais de mieux en mieux."</i><br />
<i>Émile Coué de Châtaigneraie.</i><br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNCOtnM0rSjIDLDlsRE4V342szgN_F6MrL0s_B73bQQkQ778DrvHL70k_gIMWV9DmhiAlefTlr9mu4_KQYjmP4jJ_CbtrFVoz646ty1mMnFi8QDG3eSdqrPqdwGgZMGS7YT9gAvIhf8UAv/s1600/IMG_0494.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="1280" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNCOtnM0rSjIDLDlsRE4V342szgN_F6MrL0s_B73bQQkQ778DrvHL70k_gIMWV9DmhiAlefTlr9mu4_KQYjmP4jJ_CbtrFVoz646ty1mMnFi8QDG3eSdqrPqdwGgZMGS7YT9gAvIhf8UAv/s320/IMG_0494.JPG" width="320" /></a></div>
<i><br /></i>Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-36179056504185065552017-07-17T11:55:00.001-03:002017-07-17T11:55:21.336-03:00Ao público, com carinhoAqui<br />
do palco<br />
o horizonte é você.<br />
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Que bom que você veio,<br />
que bom que tem sol.Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-3704318302268139522017-05-17T00:01:00.000-03:002017-06-07T17:04:04.321-03:00Era uma vez uma NebulosaNão sou satélite<br />
Não vou girar ao seu redor<br />
Não vou corresponder às suas expectativas<br />
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Resolvi dar a mim mesma<br />
Meu melhor papel<br />
Me saí pro ta go nis ta<br />
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Cinco sílabas<br />
Cinco pontas<br />
Uma estrela<br />
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Uma nova galáxia<br />
Em expansão<br />
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.<br />
.<br />
.Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-15366958367211791502017-05-09T16:39:00.002-03:002017-05-09T16:39:56.034-03:00O mundo é o meu lugarMudar de cidade é ficar dividida pra sempre. É preferir a dentista em uma, a depiladora na outra. É preferir o sapateiro em uma e o cabeleireiro na outra. É sentir falta dos restaurantes e dos cinemas daquela cidade quando se está nesta. É ficar cansada com o trânsito de uma e com a tranquilidade da outra. É sempre sentir falta dos amigos, querer dividir com eles o que acontece na cidade onde eles não estão. Fulana iria amar essa lojinha. Fulano iria amar esse bar. Queria trazer fulano pra comer esses doces nessa mesinha. Queria levar fulana pra conhecer tal e tal lugar. A família não pode estar sempre onde a gente está? Pena não poder ir naquela estreia. Pena perder aquele lançamento. Pena não ter uma casa com vários quartos pra abrigar todo mundo durante o festival. Queria piscar agora e estar lá. E de novo aqui. E que pena não poder ter todos eles e tudo ao alcance das mãos nos momentos importantes. Nos momentos desimportantes também. Só me alivia pensar que dessa forma o coração fica maior e mais povoado. E se for pensar assim, já começo a querer morar no mundo inteiro e ter listas infinitas de itens para amar. Uma vontade enorme de ter sempre pra onde ir. E outra de ter sempre alguém por quem voltar.Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-32131352645677616762017-04-22T01:57:00.001-03:002020-12-08T19:17:26.518-03:00Chá de hibisco e batom vermelhoDei dois pulos na maca com as mãos cobrindo o rosto e o grito quando coloquei o Mirena. Cólica drástica em dois tempos. Um, dois. Meu médico me pinçou o colo do útero primeiro e foi por isso que sangrei uma gaze. A cólica traz uma sensação estranha de que o mundo deve girar mais rápido, de que há algo de errado com o tempo. Perguntei quando é que iria passar, mas não é possível dizer. Cada mulher funciona de um jeito. Cada mulher se adapta de um jeito. Ou não se adapta. O útero de uma das pacientes do meu médico expeliu um Mirena. Descobri com minha fisioterapeuta que seu útero expeliu dois. Um, dois. Bebi água sentada na maca pra ter certeza de que a pressão não iria me derrubar como quando tomei anestesia geral, a tal. Tudo sob controle, levantei com uma cólica menos forte mas persistente. Dá vontade de andar, de se mexer, de falar, numa tentativa meio desesperada de enganar a dor. Saí de lá conversando com a enfermeira e tive vontade de contar pra todo mundo lá fora que eu não era mais a mesma. Mito da caverna, só que não. Vencida essa nova etapa (mais um rito feminino pra coleção), driblamos a chuva, meu Mirena e eu. Esperamos o Cabify com um cachecol feito manta enrolado na minha cintura pra cortar o vento. Frio piora a dor, comprovei, umidade também, já dizia minha avó me pedindo pra usar chinelinho. Avisei meu amigo que iria passar na casa dele, alguns quarteirões mais longe, pra tomar um chá quente de hibisco. Queria agradar meu feminino e, hibisco, em todas as suas formas, com toda a sua cor e exuberância, agrada. Chá de hibisco também tem propriedades anti-inflamatória e analgésica, ou seja. O plano perfeito: tinha na bolsa um batom vermelho meio violeta da mesma cor do chá. Tomaria o chá com meu batom num ritual ao meu útero valente. No caminho, a ansiedade de querer acertar os ponteiros do mundo. Pra ter o que fazer e pra lembrar da infância, comi três balas sete belo que me ofereceu o motorista do Cabify. O motorista não soube porque eu reclamei do trânsito lento. Para ele aquele era um dia chuvoso e, apesar do engarrafamento, não havia nada de errado com o tempo.<br />
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Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-61468059740892910932017-02-18T15:49:00.001-02:002017-02-18T15:49:33.356-02:00Notas de uma noite de verãoDeixar os sentimentos serem como são as sementes-asterisco dos dentes de leão. Deixar que as afinidades venham e vão, feito os movimentos do vento, que trazem asteriscos até você e até mim e os levam para cima, para o alto, bem distante das mãos. Deixar que eles se deixem pousar nas mesas dos cafés cheios de plantas e de drinks com menta, nas escadarias gastas dos edifícios das grandes cidades, nas toalhas quadriculadas de piquenique que recortam os gramados dos parques, nos grandes salões e tablados esquecidos depois das grandes festas, dos pequenos shows. Deixar que os imprevistos encorajem novamente o seu voo a novos lugares. Deixar que brilhem no contra luz, apareçam e desapareçam conforme a paisagem, conforme a janela, conforme a vontade oculta escondida nas estradas da Natureza. Deixar que elas sejam como pequenas fadas que pontilham o ar com os nossos desejos. Deixar que sejam como as estrelas, cúmplices daqueles desejos que são de todos os mais íntimos. Deixar que a vida seja leve como os pequenos fios de seu delicado desenho. E se um dia os sentimentos pousarem em terra fértil, que eles floresçam como as sementes. Que eles amadureçam como uma flor de novos asteriscos, que, madura, faz nascer novos desejos. Desejos aptos a voar nas rajadas de vento futuras. Desejos aptos a invadir como dentes de leão a terra úmida e remexida do coração.Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6556725370003691486.post-10504458371083229532016-12-26T15:04:00.001-02:002016-12-26T15:04:31.776-02:00Mea culpaNão tenho vontade de mudar ninguém mas tenho vontade de me transformar.Carolina Fauquemonthttp://www.blogger.com/profile/13909775692955661814noreply@blogger.com0