sábado, 7 de julho de 2018

Para iniciados

Quartas de final com a Bélgica. Depois do almoço tive a intuição de que o Brasil perderia o jogo. Intuição forte, eu sabia. Avisei a minha família pra eles não se empolgarem muito com o jogo já que o Brasil perderia. A gente sempre sofre do alto das expectativas. Sabedoria, me disse um amigo mago de Florença, é não criá-las nunca. Pois, como estava combinado, fui pra casa de uma amiga, e foi lindo porque ela mora meio no meio do mato e as duas muito divinamente nos aproveitamos do paraíso e não vimos nada do jogo. Em vez disso, tomamos café sentadas nas cadeirinhas da sua filha e mergulhamos em questões ocultas, nossas e da existência em um todo. Do jardim imenso ganhei frutinhas cítricas. Aprendi tanta coisa com ela, aprendemos juntas. Porque não vimos o jogo não interiorizamos qualquer derrota. Viraram números numa nota da internet que ela leu por curiosidade. Dois mais um. A luz acabou entre um diálogo e outro, e foi quando outra amiga chegou pra transformar a casa escura. Com a luz de volta, vimos uma aranha marrom que antes estava quieta na parede, ensaiar uma pequena volta no chão. Tomamos café novamente, agora as três, na mesma mesinha <3
Voltando à aranha, quem mora em Curitiba sabe o que essa aranha representa e quem me conhece sabe que eu não suporto aranha. Cheguei perto dela, pra fazer um teste de coragem. De fato, muitas coisas que me assustavam antes, não me assustam agora. Pior, estou transformando as assombrações em minhas amigas. Quem sabe eu possa escrever: melhor, estou transformando as assombrações em minhas amigas. Melhor. Afinal é mesmo o medo que faz a gente ter coragem. E afinal é a gente mesmo que escolhe se quer tornar piores ou melhores as experiências.
Agora voltando à cozinha, me perdoem a tontura do vai e vem, mas bem, na cozinha eu encontrei uma pérola no chão, num dos cantos entre a pia e o balcão, enquanto ouvíamos histórias umas das outras, histórias meio pérolas. E ali entre um riso e outro eu me pego feliz.
Olhando pro meu dia já com creme no rosto eu penso que preciso sempre acreditar na minha intuição como hoje e acreditar sempre na abundância da vida, porque não importa a densidade do momento ou a tristeza da maioria, a gente sempre pode espremer o prazer que há nos sucos de fruta da vida pra beber em companhia. E pode escolher transformar monstros em aranhas, a gente pode escolher não entrar nos canais que fabricam disputas e derrotas. Em vez disso pode se provar uma fruta cítrica nova no jardim (onde se entende a abundância), tomar duas vezes café com mulheres grandes numa mesa pequena, dar a elas uma pérola esquecida por uma criança, receber delas o que não seria possível encontrar sozinha. É possível se colocar na frequência da beleza, do amor, da felicidade entre um riso e outro, da cura plena, das vitórias luminosas.
Não gosto dos que se autointitulam, desconfio dos que se gabam a importância de serem bruxos, afinal quem é sabe o preço que há em ser e não precisa se gabar. Mas já que sou bruxa faz muito tempo e já que estou madura, me gabo um pouquinho (e que os bruxos e as bruxas oportunistas não saibam). Quem quiser saber como termina a Copa, me pergunta.

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